terça-feira, 27 de setembro de 2011

Eu e o Jornalismo

Nasci em Campo Grande, capital de Mato Grosso DO SUL, em destaque aqui para deixar claro que o Estado do sul e o do norte não são a mesma coisa. Foi no dia 09/09/89 que minha mãe me colocou no mundo e, como se não bastasse a data toda combinando, o parto foi às 20h20. Mas chega de fru-fru. Quero lhes dizer que sou muito sortuda. Já morei em quatro cidades e perdi as contas de quantas casas chamei de lar. No entanto, pude conhecer muita gente e ampliar minhas experiências de vida.

Hoje, mesmo morando em uma apagada cidade de São Paulo, estou distante da realidade pacata do interior de Mato Grosso do Sul, região da cidade de Aquidauana, onde morei por três anos e parada dos meus pais até hoje. Nessa cidadezinha predominantemente indígena descobri que jornalismo não é o que o jornal local faz, e também percebi que nem todo professor de matemática é assustador. Além disso, conheci mistérios aparentemente insolúveis, como o fato de que todo mundo conhece todo mundo em cidade pequena, e que, quando a bebida entra, a verdade realmente sai, mesmo se você se limita a beber leite.

A questão é que sou uma apaixonada pelo campo e pela cidade, e ninguém me tira da cabeça que esse meu coração dividido tem boa parcela de culpa pelo protótipo de jornalista que sou. É o amor à escrita, o encantamento pelo novo e o gosto pela reflexão que fazem aflorar meus sentidos educados na tranquilidade, mas amadurecidos na correria.

Entretanto, ignorei a pressa e fui em busca de gente da área, formada e sofrida há anos, para me ajudar a entender o que realmente é jornalismo. Acabei escolhendo o curso, às portas do vestibular, não porque sonhava em mudar o mundo, apesar de indiretamente esse ser meu objetivo. Na verdade, queria mesmo era viver do texto. Queria escrever até a LER me obrigar a rabiscar umas frases com os pés. Queria falar sobre o que as pessoas enfrentam, sobre como elas superam desafios e até onde o ser humano pode chegar. Acertei no alvo e ainda descobri que jornalista pode, entre outras coisas, fazer as pessoas se deliciarem com as palavras. Para isso, basta escrever com zelo e afinco, apesar da correria.

Por falar em obstinação, comecei a tentar esse caminho deixando o interior e retornando à minha cidade natal, Campo Grande, em 2007. Na capital iniciei no Jornalismo e decidi me tornar estagiária do jornal da faculdade no primeiro mês de curso. Situação-problema: mais de 10 concorrentes, apenas uma vaga, ninguém do primeiro ano. O desafio – intransponível para o alto dos meus 17 anos – foi oferecido aos candidatos em uma sexta-feira e deveria ser entregue na segunda-feira seguinte. Tínhamos que redigir uma matéria de duas páginas e tirar fotos para a mesma sobre um assunto relevante e quente.

Lembrei que o carnaval estava próximo e o estoque de bolsas de sangue do Hemosul (central de coleta sanguínea da cidade) certamente ficaria em baixa. Pronto, pauta definida. Minha tia (parente também tem contatos) trabalhava no hemocentro e me levou à diretora de comunicação do órgão. Já na entrevista, no meio de uma fala sobre doenças sanguíneas, a fonte me pergunta: - Você pelo menos sabe o que é lide? Resultado: ela, publicitária por formação, acabou me explicando, com detalhes e exemplos, quais famosas perguntinhas devem ser respondidas no primeiro parágrafo de um texto jornalístico.

Mas, apesar dos percalços de iniciante, fiquei com a vaga. Ao estagiar no jornal da faculdade amadureci muito, como todo estudante que tem essa rara oportunidade. Depois do jornal, passei por outra seletiva – dessa vez mais rigorosa – e fui para a rádio da instituição. Meses após, fui para uma conceituada revista do segmento de saúde e sem ligações com a universidade. Até que resolvi vir para São Paulo.

Aqui, me tornei editora de Política da Canal da Imprensa, premiada revista eletrônica de crítica de mídia, parceira do Observatório da Imprensa. Ano passado, fui selecionada entre 300 candidatos para compor a equipe de estagiários da EPTV Campinas, afiliada da TV Globo no interior de São Paulo e sul de Minas Gerais. Hoje, quando me pergunto “quem sou?”, respondo sem medo: sou alguém com muita sorte.



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Esse texto foi feito para o cumprimento de um dos requisitos da inscrição no Curso Abril de Jornalismo.